Não
sei por onde começo...
Tenho
que admitir que escrevo esta carta há cerca de dois meses, sempre que lembro de
algo ou vejo que tenho um pensamento recorrente, eu deposito aqui. Eu me sinto
ridícula e tenho receio de você me achar também? Sim! Mas eu sou muito de dar
cara à tapa, ou melhor, sigo do meu ditado: “o ‘não’, eu já tenho como
resposta, só me resta a humilhação”.
Risadas
à parte, eu só quero acreditar que você não estava me evitando devido algumas
evidências que notei (queria que fosse tudo apenas paranoias e teorias sem
fundo da minha cabeça). Eu cheguei a pedir para que nada mudasse entre a
gente e aconteceu justamente ao contrário.
Mas
eu diria que do mesmo modo que você tem o dom para escrever letras de música,
eu diria que eu tenho o dom para escrever textos. É o único jeito que sei me
expressar. Não sei também como você vai encarar isto ou ao menos ler.
Desde
aquela terça-feira, assim como desde abril desse ano, tudo que eu te disse, eu
não disse para conquistar ou apenas conseguir o que eu queria, eu disse de
coração, porque é o que eu realmente penso e sinto por você.
Eu
fiquei pensando – e ainda penso – todos as horas e os dias no que aconteceu.
Andava até a varanda, olhava a rua, assim como os carros passarem, na esperança
de te ver passar também. Ou até de você surgir de repente à minha porta para
pedir desculpas com palavras embaralhadas.
Meu
coração palpita ao imaginar que poderei acordar novamente com uma breve
notificação escrito “bom dia, biboca”, eu me sentia especial e querida. Afinal,
sempre me chamam por apelidos abreviados do meu nome original, ninguém criou um
do zero, em que o significado da palavra pouco importa para mim. Apenas era
algo único.
Eu
não tenho raiva de você, apenas fiquei chateada. Confesso que me sinto ingênua
e até uma garotinha na sua mão, pois não tive a malícia de ver que você poderia
ser assim comigo. Até hoje, quando releio as mensagens, eu quero acreditar, que
pelo menos, uma parte de você estava falando a verdade para mim.
Quando
você disse que “saía com gente”, eu não te julguei. Mas você abriu uma longa
interpretação sobre você. Não vou dizer que me senti usada, pois não quero
parecer clichê, mas me senti “traída”, pois aquele homem que idealizei ser o
Pierrot da minha história, não era tão Pierrot assim. Você é bonito, inteligente,
engraçado... Fui tola em acreditar que não há mulheres, homens a fim de você (eu
interpretei que você seria bissexual com a sua frase dita no início do
parágrafo).
Eu
fiquei muito em uma bifurcação. Não sabia se corria atrás de você, para te
mostrar o meu interesse e parecer chata ou se te deixava quieto, mas tinha medo
de você interpretar que eu não estava nem aí. Permaneci nessa constante e ainda
não sei se tomei o caminho correto.
Acho
que a história do celular era mentira. Mas a parte de já ter sido casado me
convenceu, pelo fato de você ser sensível assim como eu. Não quero dizer que
gostaria de ser sua terapia, tirar essas más lembranças de você, até porque não
tenho esse poder. Mesmo as más recordações fazem parte do nosso ser e são
responsáveis por construir nosso caráter, nossa visão do mundo e por aí vai.
Sobre
o fato de você ter medo de não conseguir dar o que eu quero, o que eu almejo, ser
o “partidão”, não sei se estava falando de coisas materiais, pois eu jamais me
importei com isso. Se for em sentimento, não tem problema. Caso queira, podemos
aprender juntos a saber lidar com este empecilho, sem pressa, apenas um passo
de cada vez, sabe?
E
tudo depois daquele singelo beijo, ainda me culpo. Me pergunto o que fiz de
errado para você sumir, me evitar. Pois, se você tivesse feito sexo comigo e
sumido, eu ia entender mais fácil, que você só queria aquilo e acabou. Mas o
beijo? Algo tão sensível, inocente, delicado... Talvez não é algo para eu
entender.
Talvez
eu possa estar apenas sendo dramática demais. Ou carente. Talvez, na realidade,
quem perdeu o brilho por quem foi você por mim, eu não fui boa o suficiente.
Existem várias interpretações, só sei que abri meu coração mais uma vez, na
intenção de acalmar minha mente. Pois, dessa vez, quem está no canto apenas te
observando de longe sou eu.
Incrível
como todos os filmes e todas as músicas que ouço, mesmo no modo aleatório,
parecem falar da sua companhia daquela breve noite. Tento negar o que sinto e
fingir que estou sendo emocionada, boba, mas eu sempre penso em você. O que eu
não faria pra poder reviver aquelas únicas 2h que fiquei com você?
Na
falta dos seus áudios aleatórios, chegando em casa com o barulho do molho de
chave gigantesco que te acompanha, eu ouço 8h30 para ouvir sua voz e interpretar
os versos no repeat. Me pergunto se foi baseada em fatos ou se escreveu
do zero, apenas pensando em algo que veio à mente no momento.
Se
você não tinha real interesse, por que fingiu que gostava de mim? Agora, eu me
encontro aqui tentando te esquecer... E antes de mais nada, me perdoa sobre
qualquer coisa. Nunca tive a intenção de despertar algum gatilho, insegurança
ou o que quiser chamar.
Esta
carta não é uma despedida, apenas uma forma de desabafar, pois aguardei tantos
dias na esperança de falar o que sinto para você, mas vi que não aconteceu como
escrevi no meu roteiro.
Espero que esteja bem, meu bem. Eu
gosto de você.
Obs: Ele não voltou até hoje...