quinta-feira, 27 de julho de 2017

Rastros

Impossível não lembrar
de você

Já que seus desenhos
estão na minha parede

Já que ficamos
sempre por aqui

Já que costumamos
acordar juntos nas
manhãs de domingo

Já que você veio
na minha vida
e resolveu deixar
sua marca.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Pai. Father. Papá. Père. Fader. お父さん.

Já perdi as contas, de quantas vezes fiz isso. Já escrevi, apaguei, me arrependi, achei ridículo, reescrevi, reformulei, deletei, deixei como rascunho, desisti, pensei que deveria ter finalizado e creio eu, que acho que conseguirei dessa vez. Não sei quanto demorarei para terminar de escrever, mas um dia ficará pronto e digno de alguém ler. Até mesmo, para quem realmente é destinado, caso ele ache este meu cantinho nos confins da Internet.

Não sei por onde começar.

Segundo Freud, o pai da psicanálise, as mulheres, quando não possuem nem meio metro, e tão pouco, conhecimento suficiente para dizer que o seu corpo lhe pertence, nós nos espelhamos em nossas mães, ou seja, procuramos alguém que assemelhe ao nosso pai, ficamos numa busca infinita por alguém como ele.

Eu concordo.

Se eu for analisar fisicamente as pessoas por quem me apaixonei e quis um relacionamento, elas não possuíam nada igual ao meu criador (não estou falando de Deus). E sim, o comportamento, sempre procurei alguém que aparentasse ser sério, mas no fundo, era hilário. Que fosse extremamente inteligente, uma enciclopédia ambulante. Que mesmo tudo na merda, ele me abraçasse e desse a maior segurança que iríamos sair daquilo.

Pois é, meu pai era assim. Digo "era", porque não sei como ele é mais. Ele está por aí, nas ruas de São Paulo, trabalhando não sei com o quê, nem sei o que ele anda comendo no horário de almoço. Como alguém pode deitar-se no travesseiro, saber que existem dois humanos, ambos quase na idade adulta (eu e meu irmão), carregando seu DNA, seus genes, suas características físicas, seu sobrenome e não se importar se estão vivos?

Ou eu posso estar errada, acontece. Ele até possui o desejo de ver os próprios filhos, mas não pode, por força maior (vamos dizer assim). Não sei como entrar em contato com ele.

Inúmeras vezes, já me peguei pensando nele. No que fazíamos, nas maratonas de Quentin Tarantino, que ele chamava carinhosamente de "sessões de violência gratuita". Nossos duetos de Legião Urbana, cantávamos até um dos dois esquecer o resto da música, não estou falando de "Faroeste Caboclo" ou "Metal Contra as Nuvens", e sim, das músicas menos conhecidas.

Lembro de que quando eu era pequena, quando ainda dividia a beliche com meu irmão, eu ficava feliz quando meu pai saía mais tarde para trabalhar, era legal o fato de toda a família tomar café junta. Eu ficava quietinha na cama, apenas para ouvir o "sinal" que ele estava presente, ele tinha uma tosse característica dele, era sua marca, era meio que um pigarro, não sei o que é, até hoje.

Eu visto um suéter que era seu, sempre saio com ele, tenho a impressão de que estou te abraçando por dentro. É como você estivesse comigo, me acompanhando nos meus gastos de sola de sapato.

Este ano fiz 19 anos, quase duas décadas carregadas nas minhas costas, não me considero uma jovem adulta, toda magia dos famigerados 18 anos passou rápido, eu caí por terra bruscamente. E como estava dizendo, eu esperava uma ligação dele, era o segundo aniversário que ele não me ligava. Que ele não me desejava falsas parabenizações, queria poder ouvir que me amava, um "como você está?" ou "como tem passado?", como ele tinha costume de dizer ao me receber em seus braços, após voltar da escola. Não me arrependo, não quis receber ligações da minha avó paterna, muito menos visitas. De quem eu gostaria tudo isso, parecia estar em um universo paralelo que eu nunca existi.

Jamais pensei que eu faria parte daquela parcela de jovens e adultos, em que não sabe o que é ter contato com o pai. Nunca imaginei, pois meu pai nunca foi assim. Ele sempre esteve presente, ele sabia meus segredos, cuidava de mim, fazíamos coisas fantásticas, era muito mágico.

Sabe o que mais arde no meu peito? É levar meu irmão numa festa comigo, encontrar uma amiga que ela te viu a última vez, apenas na 3série do ensino fundamental, olhar para o meu irmão e dizer: "Cacete! Seu irmão tá idêntico ao teu pai! Igualzinho!". É notar a semelhança, é ver meu pai "versão mais nova" perambulando pela casa, com as mesmas manias, mesmo nariz, cabelo e olhar de "cachorro que caiu do caminhão de mudança". Não é apenas eu ou minha mãe que vemos, isso vem das demais pessoas, e porra, é tipo um corte, dói demais ao ficar cutucando!

Pai, se você por ventura, descobriu este texto, por favor, me perdoa. Eu sei que posso ter errado diversas vezes, sou uma eterna fugitiva de Neverland, como costumava dizer, serei uma adulta com aquela pitada de ingenuidade. Eu quis ligar no seu aniversário, quis estar presente, mas você não convidou, nunca ligou para mim por espontânea vontade, tive e tenho medo de ser rejeitada, de não me atender, de não falar direito comigo... Enfim, de você mesmo impossibilitar o meu contato contigo. Eu fiz besteira, não te liguei no seu aniversário, fazendo o modo de ciúmes mais idiota, aquele do tipo, que todo mundo conhece: "vou ignorá-lo, talvez assim, ele me dê bola". Não deveria ter feito isso.

Sabe, eu sempre corro de conteúdos cinematográficos ou não, em que a filha tem forte contato com o pai. Isso me lembra nós dois. Não pude terminar de ver a série "The OA", caso não tenha visto, já estou dando um "Spoiler Alert":

A protagonista é russa, ela foi mandada para os EUA pelo seu pai, para que pudesse protegê-la, já que ela havia sido quase morta. Ela tocava violino. Ele ligava para ela, para saber como ela estava, pedia para que ela tocasse para ele. E ele dizia que, independente de onde ela estivesse, se ele ouvisse ela tocar aquele instrumento, reconheceria pelo modo como ela tocava.
Então, ele morre, mas ela não acredita, acha que ele está fugindo da Rússia e acabou forjando a própria morte. Ela fica cega. Ela passa a tocar o bendito violino nas estações do metrô, nos EUA. E ela tem um dilema "vou achar meu pai, se ele me ouvir, virá atrás de mim, virá ao meu encontro".

Okay, mas onde quero chegar?
Lembra pai? Eu morava contigo, estava indo para Osasco, e tive que fazer baldeação na Consolação, naquele corredor, que tem dois sentidos, vi você indo para a direção contrária, você estava indo para a linha verde, e eu para a linha vermelha, aquele divisor de metal nos separava. E nos esbarramos ali, no metrô. Toda vez que passo por ali, me dá calafrios, fico um pouco ansiosa, alimento minha imaginação, achando que posso esbarrar em você novamente.

São tantas lembranças, tantos anos e dias com ele, espero que um dia voltemos a nos falar.
Aguardo poder vê-lo novamente.
Enquanto isso não acontece, pretendo seguir a minha vida.

Self Love

I'm tired to be treated like that. For me, it's ok if you kiss somebody else, but your ex-girlfriend? Again? I can't compete wit...